Vogue: Sarah Paulson conta sobre seu retorno para a Broadway em “Appropriate”

post por: Eduardo Andrade 23.11.2023

Em um dia frio, no começo do Outono em Los Angeles, a atriz Sarah Paulson, uma pessoa com um charme e sinceridade palpável, tira uma pausa durante o almoço para se questionar como ela pode interpretar uma série de mulheres difíceis de gostar e ocasionalmente horríveis. (seu currículo inclui papéis como Mistress Epps em 12 Anos de Escravidão, Linda Tripp e a enfermeira Ratched derivado de Um Estranho no Ninho.) “Eu tento não julga-las”, ela finalmente diz. “Eu tento não pensar em como elas serão recebidas, porque eu não acho que muitas pessoas pensam nisso em algum momento. As pessoas são, eu inclusa, reativas e reagem ao ambiente ao redor delas.”

 

Se isso soa como algo fundamental, você provavelmente não é uma estrela de Hollywood, com preocupações relacionadas com ser bem quista e o marketing que essa ocupação em particular implica. “Há muitas atrizes incríveis que são estrelas porque interpretam a si mesmas, “o ganhador do Obie Award Branden Jacob-Jenkins me diz por telefone alguns dias depois “Sarah não é assim. Ela é uma atriz legitima”. Ele o chama de um “fã antigo” de Paulson, admirando-a nas produções em Nova Iorque como ‘The Gingerbread House’ e ‘Crimes of the Heart” no começo dos anos 2000. “E depois é claro, ela se tornou a rainha do mundo de Ryan Murphy.” (No universo de Murphy, Paulson é uma figura central e a favorita dos fãs, tendo atuado em nove das 11 temporadas de ‘American Horror Story’ em variados papéis como a Sally Hipodérmica, Tuberculose Karen, a vilã Mamie Eisenhower e um par de irmãs siamesas)

 

Agora Paulson está estrelando a sua primeira produção no teatro em uma década, a adaptação de Appropriate de 2013, por Jacob-Jenkins’s, que tem sua pré-estreia programada para o dia 29 de novembro e estreia dia 18 de dezembro. A peça, que é dirigida pela Lila Neugebauer, acompanha a família disfuncional de Lafaytte em um retorno para sua cidade local em Arkansas para vender a propriedade de um recém falecido da família. Há magoas, ressentimentos e um terrível segredo racista no sótão, assim como há em uma vida americana. A escolha de reconhecer isso – ou não – força os membros da família a decidirem que tipo de família e de pessoas eles são. Há momentos de leveza, mas a peça em si não é – a personagem de Paulson, a irmã mais velha, Toni, é furiosa e amargurada na mesma medida. (Corey Stoll interpreta o seu irmão Bo, e Elle Fanning é River, a noiva do irmão mais novo da família, Franz.) Para Neugebauer, a escalação de Paulson era um sonho. “Ela tem esse tipo de comando elétrico – uma combinação de virtuosidade técnica e um apetite para explorar o máximo da capacidade humana,” o diretor escreve em um e-mail. “Ela é uma das poucas atrizes que vai além do seu limite e nos surpreende,” diz Fanning. “Eu admiro o quanto ela é ousada e aventureira nas suas escolhas. Ela as faz para ela mesma e ninguém mais.”

 

Para Paulson, que está vestindo um sobretudo cinza da The Row, uma blusa azul clara de botão, uma calça jeans de pernas largas da B Sides, e argolas por Irene Neuwirth e Jessica McCormack quando nos conhecemos, se mudar para Nova Iorque será como voltar para casa. Ela cresceu lá, frequentou a Berkeley Carroll School no Brooklyn antes da fazer o ensino médio no LaGuardia e a sua estreia na Broadway logo após sua graduação na peça ‘The Sisters Rosensweig’ em 1994. Desde então voltou à cidade uma vez a cada década, ela diz, mas ainda assim, tudo agora parece algo novo. A sua última estadia no teatro foi na comédia ‘Talley’s Folly’ do ganhador do prêmio Pulitzer Lanford Wilson’s, contracenado com o Danny Burstein no teatro Roundabout em 2013, e durante esse tempo ela viveu “religiosamente” em contínuo repouso vocal e pouquíssima vida social. Dessa vez, os seus três cachorros adotados estarão com ela e a sua parceira, a atriz Holland Taylor (que está interpretando uma mulher difícil nas trincheiras na atual temporada de The Morning Show) ficará indo e voltando entre Nova Iorque e Los Angeles. O par é famoso por ser discreto, preferindo longas trilhas e pequenos jantares com amigos de elenco em Los Angeles. (Elas também são boas em viverem separadas: Paulson dá o crédito do seu saudável relacionamento de 8 anos ao manterem casas separadas.) Pode ser que essa produção requeira uma taça de vinho e um banho quente de banheira para relaxar após as cortinas fecharem ou uma música da Taylor Swift no caminho de volta para casa. “Eu não tirei o meu bracelete da The Eras Tour por quase um mês e meio,” Paulson diz. “Eu nunca tive 48 anos. Eu nunca estive em Nova Iorque fazendo uma peça com três cachorros. Sabe quando eles dizem que todas as suas células se renovam a cada 10 anos? Eu sou uma pessoa totalmente diferente desde o tempo que eu fiz uma peça. Estou interessada em conhecer quem eu serei”

 

Quanto a quem irá interpretar Toni Lafayette, o ator trabalhou com Julia Crockett, o instrutor de movimentos que a ajudou a transformá-la na Linda Tripp para Impeachment: American Crime Story. Quando se trata de um personagem histórico, há filmagens para assistir, diários para ler, materiais para se basear. Para um personagem fictício como Toni, Paulson estará focando em calcificar o personagem, com uma natureza volátil e como isso irá imprimir na sua atuação e no seu ritmo. “Eu tenho assistido ‘O Império dos Chimpanzés’ e ‘Real Housewifes of Salt Lake City’, e para mim, em algum lugar ali vou encontrar um caminho para o processo criativo”, ela diz. “Eu sei que isso parece insano.” (Na verdade não: Ambos os programas seguem comunidades incrivelmente reativas, preocupadas com a hierarquia social e com tendências a ataques repentinos de violência entre familiares. E RHOSLC tem se tornado um sucesso na TV, nós concordamos. Ela disse que ainda fez o seu amigo, estrela de The Last of Us, Pedro Pascal, começar a assistir:” Ele falou depois que assistiu ’Agora eu entendo tudo sobre você’, “e fiquei, ‘Eu não sei como reagir a isso, de verdade.’”)

 

Para Paulson, o retorno à Broadway significa mais do que uma mudança de cenário. É uma mudança de 360 graus no seu ritmo, vivendo uma série de eventos de partir o coração em looping, 8 vezes na semana, e sem a opção de parar durante a cena e começar de novo. Ela começou no teatro trabalhando com elencos pequenos e está ansiosa para trabalhar com um maior elenco e compartilhar notas quando as cortinas se fecharem. O espírito de colegial se estende aos seus colegas de elenco: “Eu nunca participei de uma peça antes, então foi um presente saber que eu teria a Branden, Lila e Sarah para me apoiar,” diz Fanning.

 

“A beleza ao fazer uma peça é que você meio que coloca os cintos. Você tem um ponto de partida e um arco, e toda noite você chega ao final da peça, e então você tenta novamente no outro dia”, diz Paulson. “Eu amo a ideia de apertar o meu cinto e deixar a peça me levar a algum lugar.” Para Jacob-Jenkins, Paulson é mais um veículo do que a passageira. “Tê-la no elenco é como ser capaz de dirigir um carro importado e muito caro”.

 

Paulson não é uma pessoa religiosa, ela diz, mas “A verdade é, no momento que a cortina sobe e a luz diminui, onde aquelas centenas de pessoas na audiência estão juntas por uma noite, é o mais perto de uma igreja pra mim.” Às vezes as pessoas acham que a repetição deve tirar a sensibilidade da sua performance. Na verdade, não. Cada produção é diferente: uma experiência compartilhada que acontece apenas uma vez. E em uma época em que quase tudo está sendo disseminado nas redes sociais, o teatro requer que o espectador esteja presente.

 

“É um dos poucos lugares no mundo que você tem a performance como elemento e as pessoas não estão apenas sentadas assistindo e mexendo no celular ao mesmo tempo. É um comprometimento que você está tomando. Acho isso muito bonito em um mundo onde muito está acontecendo atrás das telas,” ela diz, citando estudo recentes apontando como a solidão afeta a expectativa de vida. “Então aqui está uma oportunidade para as pessoas se reunirem em um lugar e colocar sua atenção coletivamente em algo. Que lindo,” ela diz, sorrindo, “e que raro.” Ela sabe uma coisa ou duas sobre isso.